a gente brincava de barbie todos os dias. três horas para arrumar a casa e outras quatro brincando, todo dia. (que pais bons eu tive, que construíram uma casa tão linda especialmente pra eu ser feliz no quintal, que sorte eu tive por ter nascido num lugar que ainda era tempo de meninas brincarem de boneca).
até que um dia, ela me ligou:
-Onde vamos montar a casa hoje?
-Não sei...eu estava pensando, pensando e... acho que não quero mais brincar.
-Como assim? Por que não?
-Porque eu me dei conta de uma coisa... Qual é o objetivo dessa brincadeira no fim das contas? Não tem um objetivo...
ela então ficou alguns segundos muda do outro lado da linha e suspirou:
-É... acho que tu tem razão e desligou o telefone.
alguns dias depois a vontade de brincar voltou e eu liguei pra ela, mas ela não quis mais.
ela nunca mais quis. eu coloquei aquela dúvida na cabeça dela e foi por causa daquela dúvida que a gente nunca mais brincou.
besteira nossa, mas a gente jamais poderia imaginar que nada nessa vida tem um objetivo muito claro.
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