11 de dez. de 2013

Estava sentada no banco lendo, eis que uma menina bonita com cachinhos e um vestido lilás, que deveria ter uns 10 anos, diz: “mãe eu sei que não dá pra abrir os presentes antes do natal, mas eu queria tanto saber qual dos presentes é o meu, eu queria que fosse aquele bem grande com o papel de papai Noel”. Então fiquei lembrando de quando eu só tinha o metro do meu um metro e sessenta e cinco centímetros de altura, meus olhos no mês de dezembro, ficavam a tentar desvendar qual das caixas por debaixo da árvore guardava o meu presente. Eles torciam para ser a maior, porque desde pequena eu achei ser o maior embrulho aquele que continha o melhor presente. E, desde pequena também, a vida se acostumou a gritar no meu ouvido "Aprende, Josiani", contrariando tudo que eu achava dela. Claro que o maior pacote nunca foi meu. O meu sempre era aquele embrulho meio esquecido, nem grande, nem pequeno. E quando eu abria o embrulho meio esquecido, tamanha era a minha surpresa ao ver que meus pais sabiam me ensinar com exemplos pequenos a não julgar o conteúdo pelo pacote. E a vida e meus pais continuaram gritando no meu ouvido até que um dia eu entendesse isso.

Não foi nada fácil. Eu insisti por muito tempo em abrir o maior berreiro pela maior boneca da loja. Mas, como a vida é de um mistério que não é tão mistério assim, as menores de todas as coisas insistiam em fazer círculos a minha volta. E então eu aprendi na marra que a maior boneca de hoje seria amanhã substituída por uma maior e que a pequena não poderia ser menor porque ninguém se interessaria por ela. Que “bolita” duraria mais tempo que bola de vôlei e, se boa jogadora eu fosse, elas me trariam mais bolitas. Que bexiga cheia de água teria o formato que eu quisesse que tivesse e que a piscina não. Que todos os minutos fabricando uma bola de futebol com jornal e fita crepe seriam mais cheios de sorrisos do que fazer um gol com a bola de futebol de jornal e fita crepe. Que nosso corpo é formado de muitos milhões de bolinhas pequenas chamadas células e que são elas juntas que lutam pela gente. Que a massa do átomo está toda no seu núcleo, núcleo este que é 100 mil vezes menor que o próprio átomo mas determina cada um dos elementos químicos. Que a rabiola da pipa é cheia de tirinhas pequenas de plástico que sustentam todo o peso do desenho geométrico que risca o céu, e que cortar essas tirinhas de plástico é muito divertido.

A vontade que eu tive foi de pegar aquela menina no colo e contar pra ela isso tudo, mesmo que isso tudo não levasse a nada.