30 de set. de 2013


hoje, depois de anos e anos, eu vi um dente-de-leão, é aquela flor que você assopra e realiza desejos.

lembrei de uma vez, quando eu ainda usava aparelho e trancinhas nos cabelos, em que coloquei uma das sementes dentro de um vidrinho.
fiz isso porque eu queria guardar uma das sementes daquele desejo e dar a um menino que sorria bonito.

ele não entendeu nada. observou aquele vidrinho tão sagrado para mim e fez cara de interrogação. sorriu e colocou no bolso.

ele nunca compreenderia o encanto da preciosidade que tinha dentro daquele vidrinho que eu o entreguei com tanto carinho. nunca. porque tem gente que entende e tem gente que não.

o desejo que eu fiz com aquele sopro era simples, uma pequena bobagem. eu pedi que ele sempre me fizesse companhia nos passeios de bicicleta.

quando ele me olhou, sorriu e disse tchau, eu não parei de acreditar que dentes-de-leão realizam desejos, e nem desisti de assoprá-los quando os vejo.

porque aquela flor me fez um favor gigante não concedendo o meu pedido: eu nunca poderia amar alguém que não entende um vidrinho com uma sementinha de dente-de-leão dentro.

28 de set. de 2013

têm dias que fica difícil até a troca de ar.
você tenta achar uma ilha no meio do oceano. 
os braços estão cansados e você pensa que poderia ficar boiando até o dia em que as respostas te permitirem sair dali voando.

então a vida pára.
os sonhos ficam ali, estanques. como se não os fossemos mais capaz de move-los.

ninguém sabe ao certo porque as coisas acontecem se não são feitas para durar, não assim.

então você percebe que quando as pétalas de uma flor caem, é melhor não pensar em porquês; é simples: é que isso pode ocorrer. 
uma vez um garoto me disse: c'est la vie. 
mas eu era jovem demais para compreender. 

hoje, eu sei: 
vai entender a lógica desse quebra-cabeça?  

26 de set. de 2013

a janela

dia daqueles lindos de viver, céu azul, sol, flores. estou eu indo para a academia ouvindo "just dance, gonna be okay (da-da-doot-n), just dance, spin that record baby (da-da-doot-n)", super na expectativa de detonar no jump e depois comer bem feliz o cachorro quente que sobrou de ontem.

fecha o sinal, alinha-se a mim um carro com uma mulher, loira, cabelos longos, cachecol com estampa lilás, bonita. vidros baixos, som alto, e lágrimas correndo.

ela chorava, chorava desesperadamente. um choro profundo e sem fim. fiquei imaginando o que teria acontecido, teria ela perdido a mãe, sido demitida, descoberto uma doença grave, terminado um relacionamento longo. coitada, a minha vontade era de perguntar: moça, tem algo que eu possa fazer? mas claro que não o fiz.

sinal abre, começo a torcer para que nos alinhássemos novamente no próximo, o que não ocorreu.

ela foi embora e cá estou até pensando no que levou aquela linda mulher a transparecer assim, sem medo.

quantas e quantas vezes eu já não tive vontade de chorar desse jeito, feito uma criança. chorar verdades. sufoquei. mania de ser forte. mas fico a pensar se a forte não era ela, que expressou assim, sem amarras, os seus sentimentos. porque a gente brinda e canta a alegria. mas temos vergonha do triste. como se fosse pecado.

queria eu ter lhe dado um abraço, dizer que iria ficar tudo bem, que a moça linda era linda e sorrir.

17 de set. de 2013

tua escova de dentes dentro da  minha gaveta dói mais que o silêncio do meu telefone. ela esperneia, grita, suplica pra que você venha buscá-la. por causa dela eu vejo os teus dentes a espera da escova, a tua boca, o teu abraço, a tua mania de perturbar meu sono com o barulho da tv. não adianta guardá-la, os gritos atravessam a gaveta, atravessam os meus sonhos, os meus dias.

e sabe o que mais dói? de todas as coisas que eu tinha, ela é absolutamente tudo que me restou.