21 de nov. de 2012

a gente é melhor quando é menor

voltava do mercado, com o bolso cheio de balas e com um picolé na mão.

doçura exalava no ar.

usava um vestido leve, sem amarras, delicadezas, frufrus e preocupações.
eu sorria, sorria... como se pudesse ser feliz pra sempre. e naquele instante eu era.

o mundo se resumia em ir ao mercado sorrindo, voltar falando sobre qualquer coisa e não reparar em nada no percurso que não fosse um cachorro perdido ou um bicho gosmento no chão.

ir a praça e se atirar na grama e jogar futebol.

ver ursinhos carinhos e achar lindo o simples.

passar horas brincando no balanço: quanto mais alto, melhor.

e pular na piscina mil vezes: de biquinho, de barriga, de costas, de pernas, de alegrias.
se sujar pra valer.

fazer espumas no banho e brigar pra sair dele - só mais 5 minutos mãe.
pintar e colorir.

ouvir histórias e acreditar nelas.

cobrir as bonecas para que elas não passem frio.

meu anjinho, meu bom amiguinho, guiai-me sempre pelo bom caminho.

é, a gente é melhor quando é menor.


tudo sempre passará, já dizia o poeta

se uma amiga linda te liga as quatro da madruga de uma terça-feira, talvez por uns momentos ela não seja mais tão linda assim. bom, mas ainda assim, é amiga. então acorde-se madame que o que te espera são horas e horas de uma conversa que eu já até sei como termina. mais um caso típico de babaquice emocional, fato que vem se alastrado como fogo entre os homens com menos de 30.

escutei entre soluços e lágrimas a mesma ladainha de sempre, mulheres vendo problemas onde não existem e homens não vendo nada, nem o necessário.

ela exagera, dramatiza. normal.

mas ele foi idiota. e ser idiota é muito pior que ser mulher, não é?

conversamos por tanto tempo e agora me ocorre, o que me deixa com raiva de mim, é que não disse o essencial: pra ela se livrar do infame, simplesmente porque ele é infame.

não sei porque cargas da’água eu excitei, logo eu que falo o que vem de dentro. talvez por saber que o que eu falasse ela o faria. talvez por saber que a verdade  poderia ser outra. ou porque eu já sabia o final da história.

e neste instante a vontade que me dá é de olhar nos olhos dela e dizer o que precisava ser dito. eu sei, é difícil olhar nos olhos de quem se ama e falar uma coisa pesada.

imagino agora. eu falando, ela chorando. eu a abraçando, ela se despedaçando.

porém eu sei, minha linda amiga, e por isso nem sofro mais tanto contigo, e quase nem me comove essa tua história. não porque me ligou as três da madrugada, mas porque  a verdade é que esse salto agulha que agora dança dentro de ti irá pular fora. outros sambas tocarão e te farão sorrir.

o desfecho da história eu não sei. mas eu queria é que ela simplificasse, torna-se o pesado bonito e o leve alegre. assim, seria um final feliz.

e o que é  a vida se não isso? fins e inícios.

29 de out. de 2012

instantes

quanto de nós está depositado, contido, preso num piscar de olhos que a gente expressa numa gentileza? naquele instante no qual se quer dizer um okay mais rápido, como se o okay já não fosse por si mesmo uma pressa?

não sei não, mas há dias que tenho acordado desconfiada de que a vida inteira, com seus cem anos de sorte e velhice para que tem sorte e velhice, está toda reunida num instante...

naquele ensejo que ele deixou para que eu pedisse para ele me esperar.

naquela chance de prolongar o silêncio quando eu, boba, boba, boba, tagarelei rotinas na tentativa de boba, boba, boba, esconder o meu desejo de me calar e de ficar olhando, assim, pra ele em silêncio.

ou naquele momento que eu fiz quietude, quando o que eu deveria mesmo era ter vivido de palavras e ter dito logo para ele que o que queria mesmo era que ele não dissesse nada e chegasse mais perto, assim, de mim.

a vida nos instantes que me divido entre arrumar o cabelo e ir ensaiando até a porta como falar "Oi, tudo bem?" sem deixar assim, tão claro, que estou muito melhor agora que ele tocou a campainha.

a vida inteira num pedaço de torta de chocolate, numa corrida de tirar o fôlego. naquele instante em que prenuncia o frio na barriga na montanha russa, que foi na verdade o motivo da gente ter passado quase uma vida na fila do parque de diversões.

e naquele sorriso de canto e inesperado, que a gente tem quando uma criança chama puxando devagar a barra do nosso vestido... instantes em que a vida toda é por si só um instante e nos quais somos justamente aquilo que sempre seremos mesmo daqui cem anos, sabe?


25 de out. de 2012

trabalho é o amor tornado visível

o primeiro paciente a gente nunca esquece...véspera foi ansiosa. abri a porta, chamei o seu João. se levantaram um casal, de mãos dadas vieram até mim. o seu João, um senhorzinho simpático, pequeno, olhos azuis, do seu lado Loreni, uma senhora morena, forte. conduzi até a cadeira e ficamos numa prosa longa. – Nossa, me passei no tempo, pensei comigo. super atrasada, começo a preparar os materiais para o exame. e aquela ansiedade se transformou em prazer. foi uma felicidade que veio de dentro.

passaram-se os meses. chegou a hora de desperdi-se do seu João e da dona Loreni. aquele senhor de olhos bonitos mas que antes não podia sorrir, chorou. olhou nos meus olhos, e me deu um abraço.
e, naquele dia, senti uma coisa que palavras não traduzem.

o seu João foi o primeiro. ele era um desconhecido que estava com os pés suspensos e a boca aberta (literalmente). inseguro, no início olhava-me com dor, quase pedindo colo.

quão simples foram os nossos momentos, de trocas. como eu aprendi com aquele casal, que nutria um amor de 54 anos.

no fim, ele fez parte da minha história, e me deixou pela primeira vez a emoção em sentir que nas minhas mãos há a arte de modificar a vida dos outros através de simples, mas sinceros sorrisos...

eu, uma menina de 16 anos, senti o gosto do acerto. sim, acertei! farei isso pelo resto dos meus dias e será sublime.ninguém me disse, mas eu desde aquele dia, sabia.

os anos passaram, muitos pacientes vieram, muitas histórias, e muitos sorrisos. e sério, que delícia trabalhar com sorrisos. que delícia espalhar sorrisos mundo afora e levantar auto-estimas.

hoje só tenho a agradecer, por tudo e todos que passaram. tenho orgulho do que faço, e quero continuar fazendo até quando e onde Deus assim o permitir.


10 de out. de 2012

um lugar que virou paixão

e sobre a cidade da rainha?

Londres é um lugar mágico, daqueles que fazem seus olhos brilharem para qualquer direção que você olhe.

não é uma cidade poética como Paris, mas aquele céu cinza, a arquitetura recheada de requintes e detalhes góticos combinados a melancolia e aquele corre-corre de uma grande metrópole faz com que a cada piscar de olhos você se apaixone mais por aquele lugar.

essa viagem foi capaz de encher de ar os pulmões da minha alma. mais do que conectado via suas famosas cabines vermelhas de telefone, ou agradado pela cordialidade de seu povo, quem vai à Londres tem uma experiência inesquecível.

é uma cidade tão linda que chega a ser fotogênica -as fotos não deixam mentir.

um pedaço do meu coração ficou por lá, e tenham certeza que em um dia eu ainda volto para buscá-lo - ou quem sabe, deixo ele por lá mesmo?



então Ju me conta como foi o teu recital de piano, ficou muito nervosa?

“Aí eu tava no palco e sentia-me apavorada. Olhei para todas as pessoas que estavam a olhar para mim, foi então que reparei no meu pai que estava a acenar-me e a sorrir. Era a única pessoa a fazer aquilo. O medo desapareceu.”

Júlia,  paciente de 8 anos

2 de out. de 2012

O Retorno do Jovem Príncipe



"O Retorno do Jovem Príncipe". A.G.Roemmers, consegui enxergar através de suas palavras como o pequeno príncipe conseguia enxergar um carneiro através da caixa.

e ao fim dessa leitura linda, que me fez chorar trilhões, vi que meus olhos ainda conservam o deslumbramento de quando eu tinha 12 anos e li o pequeno príncipe pela primeira vez.

"Você deve perdoar o fato de que a primeira reação das pessoas é julgar alguém pelo seu aspecto externo."

...tão feliz... tão grata a A. S. Exupéry e, agora, também a A. G. Roemmers por me darem forças para preservar minha inocência e pureza de coração...este livro me fez lembrar de tudo o que não convém esquecer.


30 de ago. de 2012

a eternidade do amor: ela!

eu queria poder te buscar, te trazer de volta, te abraçar de novo.

como era bom te reencontrar depois de dias longe, e te abraçar em cada despedida. descobrir ao teu lado vó, que a verdadeira felicidade está em viver as coisas simples, como reunir a família num almoço e poder apreciar os bolinhos de arroz feitos pelas mãos engrossadas pela experiência de quem nunca disse não ao trabalho. 

muitas vezes esqueço que já não está entre nós, que não posso ouvir aquela voz fragilizada pela saúde, mas que nunca se calava ao menos pra dizer " Deus te abençoe".
 
vózinha sinto tanta saudade to teu carinho, dos seus beijos, sua insistência em sentar a mesa para o café...dá até para sentir o gostinho daquele café que só a senhora sabia fazer.
AMOR ETERNO!


"A vida me ensinou...A dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração"

                           em memória àquela que estará para sempre em meu coração.

2 de ago. de 2012

hoje atendi um casal com 65 anos de união.

ela: "sabe Dra, eu tô falando isso porque quando ele tem essas dores dói em mim, então ele se faz de corajoso, mas eu sinto como ele sofre porque eu sofro junto".

a Odontologia me presenteia, me ensina, me surpreende e me faz sorrir por dentro cada dia mais!

26 de jul. de 2012

exceto a exlusão do queijo (radical, diga-se de passagem), nunca fui uma menina de dietas. sempre fui feliz comendo sem privações.
doce tempo de manequim 38...

agora, madame, o 40 está dizendo: “tchau tchau dona chocólatra, vou te mandar para o meu superior.”

não. não não. nãooooooooooo
dona Neurose, pode entrar.

primeiro foram duas semanas sem chocolate. foi torturante. e, LIBERTADOR! sim, eu posso viver sem essa coisa deliciosa. tudo é, realmente possível.

hoje me pesei logo ao acordar e vi que engordei um 1,3kg desde o meio da noite.

e eu não bebi nenhuma substância alcoólica. ou seja, é fato.

estava com 56,9 quando fui dormir. 56,2 as cinco da manhã e 58,2 quando levantei.

olha, que o peso possa diminuir, seja evaporando ou saindo do corpo pela privada, eu entendo. mas como pode aumentar?

...será que os alimentos sofrem uma reação química uns com os outros, multiplicando seu volume e densidade e se solidificam formando uma massa gordurosa mais compacta e pesada?

é, preciso teorizar isso, talvez a culpa nem seja minha né?

mas...não estou parecendo mais gorda. então vai ver que meu corpo esteja diminuindo mas ficando mais pesado.

arghhh!! parece papo de marombeira, o que me deixa deprimida.

o que me deu uma vontade gigante de comer um pote de sorvete galak inteirinho.





14 de jul. de 2012

ser dãrds

sábado é o dia da ressaca. credo, são 12 e35 hs e eu tenho a impressão de que preciso dormir mais 35 dias.

vamos lá madame, levanta-se.

lave o rosto, coloque um tênis (tire o pijama antes). 

coma uma maça.

pronto, lá vou para academia. vamos ver se acordo de vez!

estou eu a caminhar linda, alegre e desatentamente pela av. ipiranga, com uma garrafa de água numa mão, as chaves de casa na outra e uma "toalha" pendurada no ombro.

entro na academia. todos os olhares se voltam a mim. sim, não sou a Angelina Jolie. então, meus queridos, alôuuuuu tirem o olho. 
ops, devo estar com uma cara amassada, borrada e descabelada. bingo, só pode ser isso.

vou usar o primeiro aparelho, estendo a toalha. opa. 

sabe aquele pano de prato com uma vaquinha bordada? que tua vó fez um croche lindo? e sujo de morangos? sim, ele veio no lugar da toalha. 

que legal. "dãrdsisse" total.



20 de jun. de 2012

eu, por mim mesma

hoje me sinto em casa dentro do meu próprio corpo. ontem, eu era uma hóspede de mim mesma. e que coisa, a gente não conhece certas coisas enquanto não as vive (nem a nós mesmos), a gente nem mesmo sabe que pode ser melhor ou diferente ou mais difícil ou mais doloroso. a gente não sabe.

e fico tão feliz agora, quando paro e vejo: sim eu sei quem a josiani é, o que é ela gosta, o que ela sente, do que ela tem medo. ela por ela mesma. não ela com alguém...

não desprezando a companhia de alguém em qualquer relacionamento, que claro, nos faz bem e também nos ensina. mas não há nada, absulatamente nada, que nos traga paz maior do que a solidão. e eu falo da solidão “usufruída” no seu melhor e no seu pior, não só aquela de ficar deitada um dia inteiro depois de uma noite feliz, assim, sentindo a alegria de estar vivo. ou aquela de correr kms só com a cia de suas músicas preferidas e do sol...mas também aquela de sentir uma dor e segurá-la com nossos próprios braços, de chorar no chuveiro o choro contido e logo depois encontrar num livro um amigo, de acordar cedo e ir a luta, assim, sozinho. e se não der certo? você pode fazer diferente, você sabe que é capaz.

e essa é a chave, não que um outro não possa fazer por ou com você, mas viver com uma sombra, com uma escora sempre, nos limita da mais fantástica sensação a qual experimentei até hoje: conhecer-se a si próprio.

10 de mar. de 2012




Deus me faz cia quando estou assim, eu e o mar.

a gente se compreende em meio ao azul. 

nada explica a paz que isso me trás.

5 de fev. de 2012

hangover

09h: urghhhh, prefiro a morte. juro, nunca mais bebo!

09 e 50 h. eu queria é que alguém me trouxesse um alaminuta do tudo pelo social.

12h  estou com a boca seca, mas se eu levantar para pegar um copo de água tem o risco de atrapalhar os pinos batendo e os faisões dançando dentro da minha cabeça. então melhor ficar com a cabeça enfiada embaixo do travesseiro e sem abrir os olhos.

16h.  banho de uma hora

17h. comi um frango inteiro

118h. atirada no sofá: que noite meu pai!  pena que amanhã é segunda!

21 de jan. de 2012

dias cheios de silêncio e tumulto

têm dias que o sol nasce e que as flores exalam perfumes
têm dias que os sonhos são doces e as pessoas falam coisas bonitas
têm dias que os sorrisos são honestos e os olhares refletem verdades.

tudo pode ser belo e simples
e ao mesmo tempo não pode ser.

porque têm dias que precisamos de colo de mãe
têm dias que tudo é cinza e nublado,
dias carregados de incertezas, vazios e saudades.

têm dias que não estamos para o samba, para o rock, para os amigos
estamos para nós mesmos, para as coisas que sentimos
sejam elas doces ou amargas
elas exclamam.

19 de jan. de 2012

o simples da surpresa, também é feliz.

fui guardar o diário de 2011. a caixa estava pequena. eis um problema - espaço!
então enquanto fico a pensar em um lugar, começo a folhear.
e olha o que me dou conta depois de ler as primeiras páginas: cumpri 100% das minhas resoluções para o ano passado. isso é uma coisa tão feliz. me deixa a sorrir.
descobertas, nossa, e eram muitas! tanto o que eu ainda tinha pra viver, tanto que me fez sorrir e chorar, que me fez crescer!
busquei amizades antigas, que deixei o tempo levar! literalmente, eu sumi! me isolei durante todo o tempo em que namorei, quanto errado foi...como que a gente não enxerga a gravidade dos erros enquanto os comete?
bom, foram tantas resoluções, todas devidamente cumpridas em um ano desafiador, intenso e difícil.
mas, foi bem ali, nos momentos em que faltou terra firme que me redescobri e me reinventei. rompi parâmetros e verdades que me pareciam absolutas me mostraram o quão podem não ser. acima de tudo, eu me conheci. hoje sei quem eu sou quando estou sozinha, o que eu sinto e pra onde quero ir.

e então me dei conta: opa, e as resoluções de 2012?  decidi: não haverá resolução nenhuma. abrirei portas para o inusitado.

deixa o sol bater no rosto, a música fluir, os olhares despertarem. o simples da surpresa, também é feliz.