25 de abr. de 2013

um novo olhar

quantos domingos eu acordei as sete pra abraçar os livros e quantas praias e jantares deixei de ir. foi tão árduo. foi tão chato pros que estavam do meu lado. quanta gente eu deixei no caminho?

eu sabia o que estava fazendo e exatamente o que queria.

os frutos vieram. era 2010 e eu tinha 22 anos, já formada e com um trabalho que sonhei. e então o óbvio era que eu estivesse feliz...e estava... mas uma angustia seguia-me nos meus sonhos e nos meus dias. precisava me reencontrar comigo mesma. foi então que tudo mudou.

não sei, às vezes eu penso que a vida sabe direitinho o que fazer, por pior que pareça ser, as coisas acontecem quando é a hora.

fiquei sozinha e descobri tanto sobre mim mesma que não há como dimensionar. aquela garotinha que nasceu numa cidade de 4 mil habitantes foi então descobrir o mundo, dentro e lá fora. doeu. foi preciso coragem para enfrentar a própria solidão e descobrir o quanto ela fortifica o ser humano.

chorei verdades e senti vazios. sorri pra lua e dormi na areia.

viajei, me encontrei.

vivi em um ano o que eu não tinha vivido em 22. até então, não conhecia quase nada da vida, nem geograficamente, nem de mim mesma.

Rio de Janeiro, Buenos Aires, Fortaleza, Natal, Salvador, Ilhéus, Londres, Paris, Amsterdam, Búzios, Santos, Maresias, Foz do Iguaçu, Punta Del Este. 2012 foi o ano que eu aprendi a viajar -com a alma e com olhos - que foram muito mais dois corações do que minha visão de mundo...

sentir prazer com bolhas nos pés, comer percevejos fritos, se perder de madrugada sem endereço e sem dinheiro, fazer carinho em uma cobra de 11 metros, ficar amigo de gente tão diferente e tão longe – gente que meus olhos provavelmente nem irão mais ver, percorrer vilarejos de bicicleta, dormir sobre a grama da tour eiffel, conversar com um indiano e ficar morrendo de vontade de conhecer a Índia.

voltar pra casa, deitar na cama e sonhar com a próxima viagem.

qualquer coisa que eu possa falar não descreve o que tudo isso foi, o que tudo isso é. sinto que foi como deixar-se perder num lugar novo para depois me reencontrar comigo mesma.

a liberdade é uma miragem. você olha ela bem longe e então quando vive ela você continua olhando cada vez mais longe.
não dá pra ser totalmente livre, de corpo e alma. exceto se você não quiser ter laços e nem cativar flores. mas me diz, o que faz a vida mais feliz que poder contar com alguém depois do sol e da chuva?
antes, você só precisa conhecer o que tem atrás dos seus olhos. enxergar o que você é, o que você quer e para onde está indo.

o amor pelos seus sonhos vem depois, primeiro ele vem por você.

10 de abr. de 2013

se a vida inicia aos 30, eu ainda nem nasci

ontem tava lendo uma entrevista de  Nelson Rodrigues na qual ele disse uma frase que me fez ficar divagando:
"um homem só aprende a falar bom dia pra uma mulher depois dos trinta anos."
lá fiquei eu com mas e mais mas na minha cabeça. já tendo lido bastante de suas obras, sem retirar um pingo dos is de seu talento para a dramaturgia, e conhecendo alguns homens de trinta e tantos anos, eu suspeito de que a afirmativa seja mais uma frase de efeito do que uma verdade. verdade absoluta, na verdade, creio que não é. trata-se, digamos, de uma quase verdade absoluta.

uma mulher que não seja tão exigente, o que não quer dizer que ela tenha menos de trinta anos, pode não entender de bom dias como supõe Nelson. essa sensibilidade para cumprimentos matinais (ficou poético, não?) tem mais a ver com beleza de saber escutar do receptor da mensagem do que da delicadeza do saber falar do emissor da conversa. confuso? explico.

sabe aquele ditado furado que diz: a beleza está nos olhos de quem vê? então, ele não é tão furado assim e serve direitinho ao que eu quis dizer. para uma conversa no parque dar em namoro deitado à rede sob um céu estrelado, precisamos de um bom dia bem dito e de um bom dia bem escutado. e para isso ocorrer, simultaneamente, num dia azul e feliz, precisa-se de outro 11 de setembro! é raridade.

duas pessoas vividas (o que, martelo, não tem tanto a ver com idade como Nelson afirma) para entenderem de bom dias, precisam de ausências semelhantes, ou melhor, de ausências idênticas, ou melhor ainda, de ausências contrárias. elas precisam sentir falta de algo que as una: ou porque falta também no outro, ou porque um tenha pra dar e vender, ou porque ambos se conformarão juntos de que não têm o que procuraram a vida toda e, exatamente por isso, se encontraram.

exemplificando...

é necessário que ele tenha um rádio de pilha e ela uma lamparina. é preciso que ele não saiba dançar e ela tenha dificuldades para achar uma estação que ainda toque legião. é muito importante que ele pise no pé da moça e que o moça, não encontrando a estação, cante no pé do ouvido dele. e mais importante ainda é que esse primeiro encontro não dê certo. afinal, um bom dia belo à beça de se escutar só é dado depois de muitos bom dias feios à beça dados e gagos. a experiência tem a ver com tentativas, falhas, percepção das falhas e novas tentativas, novas pessoas, novos encontros, novos lugares... um novo que, na verdade, vem de um renovar.

e isso a gente aprende com anos bem vividos, sofridos, calosos. até acho que talvez existam alguns homens de trinta anos, Nelson, que tenham trinta anos de tão péssimos dias que invalidem a afirmativa - e eu até conheço alguns!  mas me atrevo a dizer, mesmo com esses poucos anos nas costas e quase tudo ainda a aprender, que precisamos de muchas noches de chororô, para termos, nós mulheres, ouvidos aguçados para um cumprimento verdadeiro. e eles também. precisam ter chorado muitos baldes d'água. já que, é bom lembrarmos, um bom dia é, antes de qualquer coisa, um desejo de felicidade plácida que a gente só sabe dar a um homem ou a uma mulher quando a experiência de vida já nos deu noites mal dormidas, sobre a rede, sólitos, sem estrelas pra contar o quanto choramos por amor.