2 de mai. de 2014

para um dos grandes amores da minha vida

Quando ela veio ao mundo a dona Marlene me olhou com aqueles olhos serenos (que mais tarde eu vim a descobrir muito espertos também) e disse: “filha, não têm mais bicos no mundo, você precisa dar o seu para sua maninha.” Eu, no auge dos meus 4 anos de idade, então, aprendi a dar sem pensar em troca.

Eu era tão gente grande quando ela nasceu que até escolhi o nome dela (coisa que ela nunca me agradeceu, porque era pra ser alguma coisa com Josi e lá vai fumaça).

Micheli (com i no fim, né mãe?), minha irmã. O paraíso avesso. A paciência longa. O jeito de monstra quando acorda e fica correndo em volta da mesa de centro da sala cantando feito uma doida varrida. A preferência por batata frita. As brigas. A cumplicidade. A certeza: desde que ela veio eu não fui mais sozinha. Não sou.

E nesse sábado, a parte nerd da família se tornou uma Engenheira Química (isso deve ser o ápice da “nerdisse” no mundo), e vendo-a no palco com aquela toga, fui chorando e relembrando cada coisinha bem devagar. Passou um filme.

Ela me ensinou a olhar pra trás. Quando eu segurei aquela mãozinha que era igual a das minhas bonecas, nunca mais olhei pra frente sem pensar se ela vinha junto. E se o caminho estivesse difícil? Eu pouco me importava em tirar as pedras pra ela, machucar meus pés, ou qualquer coisa que a fizesse andar melhor. Tudo por ela e sempre.

Ela me ensinou a dosar nas ações, explosões, reações. Puxões de cabelos, mordidas, chocolates roubados e mágoas. “-Eu nunca mais vou falar contigo!!” “-Quem disse que eu ligo?” E no dia seguinte aquele sorriso, derrubando as birras maiores para dar vez ao que sempre é maior. O nós, quando já não tem mais eu e você.

Ela me ensinou a torcer, a apoiar idéias malucas (“-Quero uma moto?” “-Ã? Meu deus, uma moto não! (...) Tá, tá bom, mas toma cuidado viu”), só para notá-la em paz.

Enquanto eu fazia pose pras fotos ela chorava de soluçar. Enquanto eu tinha mil e uma bonecas ela só queria saber de carrinhos e cachorros. Enquanto eu gostava de ler e escrever ela preferia música, foi dureza tentar se concentrar com Pitty no volume que dava pra ouvir no mais longe dos meus contos de fada.

São tantas diferenças pequenas. São tantas semelhanças grandes.

Eu fui a primeira a pegar minha mochila e ir atrás dos sonhos. Ela veio depois, com os mesmos dezesseis. Eu sabia da dureza, da dor, eu sabia direitinho tudo que ela ia passar. Tive vontade de pegar no colo e dizer: mana, fica comigo que eu cuido de ti, eu te protejo do mundo, não deixo te machucarem. Me conti até a unha. Só eu sei quanto eu rezei por ela.

Maninha, preciso tirar o diminutivo dessa palavra, já passou da hora né? Cá estou eu me desmanchando em lágrimas te vendo conquistar o maior dos sonhos (até hoje). E seguirei me desmanchando quando tu conquistar os outros. Todas essas palavras talvez nunca tenham sido ditas. Sempre achei desnecessário expor o que me coração sente tão óbvio. Mas se eu pudesse escolher, diria que é assim mesmo que eu prefiro. Oi rápidos e sinceridades como “Não tô a fim de falar agora, me deixa em paz”. Prefiro aquela fotografia na prainha, onde o “pretume” revela o quanto o sol era bom pra aquelas guriazinhas levadas que murchavam na água e contavam os minutos depois do almoço: “Mãe já dá pra ir? Olha, nem tem mais sol!”. Prefiro lembrar do piu piu em um dos nossos bolos de aniversário. Prefiro lembrar dela a cada vez que eu escuto Eu não existo longe de você. Prefiro a briga pelas moedas do pai. Prefiro noites como aquela em que o nosso hamster quebrou o pino da gaiola e ficamos revezando (enquanto uma segurava a portinha da gaiola deitada no chão, a outra dormia e vice-versa), só pra ele não fugir de novo (imagina que perigo ele ir embora pra sempre?). Prefiro ainda as histórias cheias de detalhes. O dom de me fazer passar vergonha e me irritar profundamente. Lealdade, perfeição torta, defeitos. É amor. Amor daqueles costurados no ponto mais bem feito. Mãe que costurou.

Sou por ti, mana. Não vou parar de ser antipática com minhas opiniões intrometidas, digo tudo pelo querer bem, que é tão grande que nem cabe. É orgulho o que sinto pela tua valentia, pela tua sinceridade, pela tua determinação, pelo teu altruísmo, pela tua maturidade.. É orgulho que eu sinto, não só hoje, mas desde aquele dia que eu te dei o meu bico e segurei a tua mãozinha de boneca. Tu é linda apenas por ser, e tem um sorriso que ilumina todos os meus dias.

E seja lá o que for eu faço o que for melhor pra ti.

Agora VOA minha Engenheira, eu crio asas se preciso for. “Tamo junto”, pra sempre.