28 de ago. de 2014

Nesses fins de tarde curtos de inverno, ele vem com o cachorro e se senta no banco ao lado dela. Pode estar frio, sem um mísero raio de sol, lá está ela lendo, e é tão curioso que ela sabe exatamente quando ele vai chegar, noto porque sempre arruma o cabelo antes. Eu acho tão querido que sempre pego a esteira de frente pra rua.

Eles se olham e trocam duas ou três palavras.

Ela finge que continua lendo e enrola os cabelos como quem estende a vida para fingir que ele não mexe com ela. Se ela se distrai e olha para o céu, ele aproveita para admirar os olhos dela. Quando ela se volta para ele, ele esmorece e começa a brincar com o cachorro.
Ele não sabe que ela desenha borboletas como ela não suspeita que ele atrasa o play om os amigos só para ficar com ela, olhando pra ela.
Tem um botão do vestido dela no bolso dele. Há incontáveis rascunhos em papel colorido com o nome dele espalhados pelas gavetas do quarto dela.
Ela sonha toda as noites que gaivotas brilham no escuro quando ele a convida pra dançar. Ele guarda a roupa de gala que era do pai para o dia que tocar Bee Gees.
Ela se perde nos pontos da trança. seu cabelo não tem comprimento suficiente para contar a idade dele: o último laço dá nos doze anos; ele tem quatorze. Quase!

Quando a mãe dela aparece, eles se levantam no mesmo instante.
Ela diz "tchau" e sai sorrindo de canto. Ele diz "tchau" e fica.

Antes de dormir, ela pede a Deus que encurte a calçada; ele pede coragem.

Saudade dos meus 13 anos.