2 de abr. de 2014

lembro como se fosse hoje o dia em que minha mãe chegou em casa com aquelas sacolas bonitas que enchem a gente de curiosidade para saber se tem presente lá dentro. o sorriso da minha mãe, meio maroto, meio de mãe mesmo, entregava tudo antes de eu sair correndo e arrancar a sacola da mão dela. "Mãe, o que tu trouxe pra mim?". eu tinha seis anos quando abri aquele embrulho e me deparei com uma caixinha de vidro com um laço vermelho. fui abrindo com aquela felicidade desesperada de ser mais feliz de criança, enquanto a dona Marlene dizia "Calma, Josiani, assim tu vai quebrar o presente antes de saber o que é!".
abri, era um coisa redonda, pesada, com uns pauzinhos que se mexiam sozinhos dentro dele, num mesmo sentido, num mesmo tempo de pausa e movimento, feito uma coreografia de dança circular. fiquei alguns segundos olhando pra ver se encontrava alguma graça naquilo.
"Hoje tu vai aprender a contar as horas!". é um relógio! uauuu, um relógio! e minha mãe sentou ao meu lado e me mostrou como aqueles números mudariam a minha vida para sempre.
naquele dia nasceu a minha pressa e a minha tristeza ao saber que quinze minutos depois eu teria que parar de brincar e ir jantar. a partir daquele dia eu soube o quanto uma aula de matemática demoraria a passar, descobriria que eu não teria a vida inteira para brincar de esconde-esconde, pois um dia, depois daqueles pauzinhos darem um montão de voltas, eu deixaria de achar graça no brincar de esconde-esconde. agora tudo estava mudado, tudo tinha hora marcada, e eu não podia mais ser livre como antes. estava presa para sempre às regras do tempo: horário para acordar, estudar, almoçar, brincar, ir buscar minha mana, arrumar o quarto; e mais tarde: horário para aula na faculdade, final de semana para ver os amigos, ansiedade antes de um encontro, desespero de um atraso e um montão de outras coisas que se eu soubesse como funcionava não faria tanta questão de conhecer.
e comecei a olhar mais tempo para aquele objeto do que para a vida. vejam só, se isso mesmo pode ser verdade? a preocupação com o tempo foi tomando o espaço do meu viver. agora mesmo estou pensando em como eu queria parar o tempo e ficar aqui atirada na grama lagarteando no sol até quando eu terminasse de escrever tudo que sinto.

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