3 de out. de 2011

opa, blitz.

cinco horas da madruga. duas viaturas da polícia militar. eu e duas amigas voltando de uma noite daquelas, com muito suor, risos e tombos. um dos policiais faz sinal para que eu pare o carro. outro diz para eu encostar ali devagar. faço cara de puta da vida porque somos só três mocinhas que sairam dançar. ok. respiro. estaciono o carro. procuro o botoãozinho, que parecia não estar no mesmo lugar, para que o vidro desça. dois policiais se aproximam. o vidro vai descendo devagar. abro e fecho os olhos. observo num deles um rosto bonito daqueles que eu nunca na vida tinha visto ao vivo antes. a história começa:
ele: Boa noite.
eu: Boa noite.
ele: A senhorita poderia ascender a luz interna do carro, por favor.

lembro que estou com um vestidinho daqueles que nunca fui a balada antes. tanto que no auge da minha super "independência visual", ainda havia perguntado para as gurias: mas não tá muito curto não?

eu: Claro. - e ascendo a luz.
ele, olha para mim, para o outro policial, sorri e volta a olhar pra mim: A senhorita poderia me mostrar sua habilitação e os documentos do carro, por favor.
eu, tensa pensando no bafômetro: Claro. Aqui.
ele, sorrindo meio desconcertado: A senhorita já teve problemas com a justiça, senhorita Josiani?
eu: Não, graças a Deus e a mim.
ele, sorrindo e ainda desconcertado: Vou verificar seus documentos e volto aqui para devolvê-los, senhorita.
eu: Ok.

passam-se alguns minutos e o policial bonito à beça volta sozinho com os meus documentos.
ele: Aqui, senhorita.
eu: Opa, obrigada!
ele, chegando mais perto da minha janela: Ah, senhorita, preciso elogiar o seu perfume. É muito bom. Fui e voltei com seu cheiro me acompanhando.
eu, quase infartando: Impossível, acabei de dançar, meu perfume já deve ter ido embora...Você está mentindo pra mim...
ele: Não estou não, ele está aqui comigo, seu cheiro vai ficar aqui... Você foi dançar o quê? Pagode?
eu, mentindo (e com aquela cara de pimenta que eu fico toda vez que isso acontece): Sim, pagode. É...pagode também.
ele: Eu gosto de dançar pagode.
eu, imaginando aquele homem fardado dançando pagode, olhei pra ele, pro volante, respirei fundo e não consegui falar nada: (...) s
ele: Que foi? Você desviou o olhar agora...
eu, tensa: É que...Você dança mesmo pagode?
ele: Sim, danço. Você não acredita?
eu: Não, é que você dança pagode e...
ele: E...? Pode falar, esquece que sou policial. Esquece essa farda e fala pra mim o que você tá pensando...

nesse momento, imaginem uma Josiani tensa! agora multipliquem pelos grãos de areia e somem às gotas do mar! o "esquece que sou policial" martelando e fazendo eco na minha cabeça...

queria mesmo era sair correndo dali, não que a beleza dele significasse alguma coisa pra mim, me chamou atenção e até me assustou (algo do além era aquilo!), foi isso e só. mas só de imaginar... eu que sempre fiz tudo certinho tendo o carro guinchado... a cabeça girava.

eu, tensa, tensa, tensa: É que... Veja, não estou dando em cima de você... mas é que você é muito bonito e eu fiquei imaginando você bonito desse jeito dançando pagode.(eu falei isso, como assim?!), mas... é só um elogio sincero.(ahh essa minha sinceridade ainda me quebra as pernas).

se ele soubesse que a chance daquela trova dar em alguma coisa era zero, e aquilo de eu ter dito que ele era bonito era só uma verdade dessas que tenho mania de deixar escapar, ele teria me liberado. quem sabe?

ele, com um sorriso imenso de lindo olhando para mim daquele jeito que eu nunca na vida tinha visto ao vivo um homem olhar para mim antes: Vou te parar sempre...- e vem chegando cada vez mais perto.
ligo o carro.
eu, nervosa com a beleza do policial: Preciso ir, você tá me deixando nervosa...
engato a ré, tremendo. ele se aproximando enquanto eu saia devagar. começa a me seguir com o olhar. eu vou saindo e deixando aquela blitz da sorte para trás.

as gurias me xingando de burra, etc e tal. como se elas não me conhecessem né? poderia vir o Brad Pitt de joelhos com rosas amarelas que eu sigo uma pedra (achando ele lindo até morrer, mas pedra)
julia: Eu aqui do lado fazendo figa pra ele olhar pra mim.
eu: Tudo que eu queria é que ele olhasse pra ti.

vou ficando mais nervosa cada vez que olho no retrovisor. engato a segunda e deixo aquele policial lindo de viver só me observando lá trás.

subo os milhões de degraus que me levam a minha cama refletindo sobre a quantidade de perfumes de mulheres que ele deveria voltar para casa. abro minha bolsa para conferir se naquela tensão toda ele tinha mesmo me devolvido todos os documentos. e, quando vou verificar a minha habilitação, adivinha o que encontro dentro do plástico junto dela...?


ahhhhhh... assim você me mata!!



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